O cessar do pensamento - a conexão pura do homem ao espírito




Baseando-me apenas no que venho vivendo vejo a verdade quando os grandes sábios dizem que apenas no isolamento descobrimos o que somos em nossa essência. Ao nosso redor as pessoas incessantemente nos cobram sobre o que fazemos, quando fazemos e como fazemos, por mais desapegadas que as pessoas sejam de nós. Não digo que devamos ser ermitões, pois esses buscam na obsessão pela solidão o que são em essência. Buda em sua visão sobre o caminho do meio deixou muito clara essa premissa. Não devemos nos abster do mundo por completo, nem podemos na ilusão da nossa realidade afundarmos, devemos pairar, conscientes que vivemos em um sonho incrivelmente lúcido e buscarmos incessantemente a corroboração dessa premissa, pois não adianta apenas acreditarmos com a nossa razão em uma premissa que está além de nossa própria razão. Devemos sim buscar o incessante acréscimo de consciência para com isso podermos saber, sentir e não apenas pensar no conceito que tento expor aqui, o conceito de realidade.

Somos munidos de sentidos, visão, audição, tato, paladar e olfato, juntos esses cinco sentidos com o sexto, que é a nossa mente conseguimos fazer com que o mundo seja coeso e uno com a visão de mundo que outros tantos compartilham conosco. Contudo os sentidos são apenas uma forma de aglutinarmos o que é captado pela nossa energia, o mundo verdadeiro em a máscara das convenções e da descrição humana. Pensemos em uma pessoa com a ausência de algum sentido, como por exemplo um cego. Bem esse sentirá o mundo utilizando-se apenas de quatro dos sentidos, que serão muito mais aguçados que os dos demais, contudo a percepção de mundo que esse cego terá será diversa da convencionada em diversos sentidos. Os padrões de beleza serão diferentes , a interação deste com o mundo também, ainda mais com a privação deste sentido que é exacerbado no homem. O que acontece então com um bebê que quando nasce está ainda desenvolvendo os seus sentidos. Para o bebê a percepção do mundo se dá de acordo com a recepção energética do mundo que o cerca, na verdade o bebê percebe o mundo muito melhor do que o homem. Percebam a forma com que um bebê chora com determinadas pessoas, em determinados ambientes, em determinadas situações, pois ele é muito mais sensível que o homem as influências do mundo incomensurável que nos cerca.

Contudo o homem tende a racionalizar as coisas, colocá-las de forma que possam explicar coma razão tudo que o cerca, desprezando e relegando ao esquecimento tudo e qualquer coisa que por ele não possa ser explicado. É um tema complicado e vejo minhas forças exauridas na tentativa vã de explicar tais acontecimentos em termos da razão, mas o homem em um certo momento era um misto das percepções cognitivas associadas dos sentidos com as percepções energéticas do mundo exterior, como um sétimo sentido que não se mesclava em algumas vezes com os demais. Quando o homem se encontra frente a fenômenos desconhecidos várias possibilidades são tomadas, uma é a tentativa de interpretar o fato com a razão, trazendo-o para o campo do mundo cognitivo do homem. Outra possibilidade é tentar ampliar o seu inventário colocando aquilo como um evento sobrenatural, um espírito, um fantasma, uma projeção, mas limitando-se a isso, sem se aprofundar pois a razão recua frente ao desconhecido. Uma terceira opção é culpar a mente, que é o refúgio seguro do que não podemos descrever, relegando a mente podemos falar que o evento é simplesmente uma peça pregada por algum efeito hipnótico da mente, uma ilusão causada pelo sono ou qualquer outra desculpa medíocre como essa. Geralmente essa última é usada para explicar os reinos dos sonhos, com aquela típica frase: “foi apenas um sonho”.

O que seria o nosso mundo então se não um grande e sólido sonho, um sonho que compartilhamos com as demais pessoas do nosso mundo e por isso parece tanto a realidade. O que fazemos quando sonhamos se não despertar desse nosso mundo para outro, igualmente irreal e ilusionário, essa é a realidade que esquecemos durante as nossas vidas e em geral nos lembramos apenas no momento de nossa morte. A idéia exposta aqui não deve apenas ser compreendida, como já falei, o exercício da vida deve ser um exercício de ampliação da consciência, devemos entender, devemos sentir esse mundo como realmente ele é, um aspecto da realidade, na verdade uma pequena faixa do todo que é o universo perceptível pelo homem. O exercício primeiro que todos podemos lançar mão é dar igual importãncia aos nosso sonhos a que damos ao nosso despertar, primeiro tomando as rédeas, o controle dos nossos sonhos, não adianta sonharmos como zumbis sem consciência, devemos ter consciência de nossos atos e somente ai que veremos o quanto os sonhos se parecem com a nossa vida e então que o processo de despertar para a ilusão de nosso mundo automaticamente começa.

Existem ainda processos que ajudam na conscientização de nossa realidade como ilusória, é o processo de para ao principal de nossos sentidos, a mente racional. Percebemos com facilidade o quanto conversamos consigo mesmo em nossas mentes. A todo momento recontamos nossa vida, vivemos lembranças, pensamos no futuro em um incessante e constante diálogo que nos consome a possibilidade de ver a realidade como ela é. Essa é a nossa mente nos ocupando a energia sistematicamente, como foi treinada desde cedo para fazer, mantendo assim o mundo como ele é. Essa mente, o nosso sexto sentido não nos permiti momentos de verdadeira contemplação no universo mágico que nos cerca. Existe uma infinidade de meditações que servem para parar o diálogo interno, e quando atingimos a cessação do diálogo, que chamo de ponto crítico, paramos a descrição da interpretação do mundo como ele é, ai acontece a verdadeira mágica, os sentido nos mostram o que vêem realmente, o que sentem e o que recebem do mundo que nos cerca, pois essa visão pura não passa pela nossa interpretação, pelo nosso limitado e simplório inventário do mundo. Inicialmente podemos ver a energia das pessoas que circula o corpo físico, bem como a energia dos animais, plantas, inicialmente apenas um anel mágico, uma áurea em volta do objeto, que quanto maior é o silêncio e a permanecia dos estados de não mente, mais densa fica a energia e mais etérea fica a nossa descrição do mundo conhecido.

Um exercício que recomendo nessa prática é a caminhada de atenção, aprendi a técnica nos livros de Castaneda, e ela é simples e puramente uma caminhada em que afundamos os nossos sentidos no intuito de sobrecarregar a mente, fazendo que ela alcance o ponto crítico e silencie. Para isso temos que caminhar com as mãos livres, colocando as mãos em alguma posição não usual, tocando os dedos, com as mãos em garras, o que seja diferente da forma usual de deixar as mãos, o importante e caminhar atento a posição das mãos. Outra premissa é caminhar em um rítmo constante, sem variações de velocidade e ritmo, não precisa ser sistemático na prática, mas tentar manter um ritmo, concentrado nas passadas. Além disso, concentrar-se na visão de toda a periferia, com uma visão em 180 graus, olhando acima do horizonte e não concentrando a vista e nenhum elemento. Além disso incorporei ainda dois detalhes a prática que são muito eficientes, é manter um ritmo respiratório e manter a língua encostada no céu da boca, no palato. Todos esses itens sobrecarregam depois de um tempo a mente e ela cessa, parando. Inicialmente quem experimentar o exercício sentirá que está pairando, flutuando, a vista ficará um pouco desfocada e o ritmo da caminhada se acertará por si só. Assim a pessoa pode caminhar distâncias sem nem mesmo sentir-se cansada, apenas pelo estado de não mente.
 
Bem, como já disse diversos outros exercícios de meditação ajudam a atingir o ponto crítico de silêncio, mas é bom afirmar que esse é um estado cumulativo. A medida que o exercitamos ele se fixa mais em nossa vida, e pode ser evocado mais vezes. Com a cessação do diálogo nos vemos cada vez com o sentimento de desapego as futilidades cotidianas e mais aproximados de nossa essência e do mundo que nos cerca. É um caminho que nos leva de volta a conexão íntima com a natureza mágica do homem e a estados intuitivos que extrapolam o âmbito da razão. Com o silêncio de nossa mente ordinária conseguimos ouvir uma voz bem mais profunda, a voz do próprio espírito nos guiando em nossa vida, uma tênue voz que alguns já ouviram e chamam de intuição e eu chamo de sétimo sentido, a percepção pura do universo, o ato mágico de ver a roda do tempo e escapar do mundo simplista convencionado atualmente como realidade.

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