O renascimento do guerreiro - Fugindo do molde da sociedade moderna


Lembrei-me hoje de minha infância, revivi na verdade diversos momentos. Eu estava caçando, buscando e me montando novamente, prática que venho fazendo há algum tempo. Pensei então no que significa a religião, que é derivada do latim religare, religação e pensei acerca de minha prática. Não vejo objetivo prático em querer se religar a essência de tudo se nós mesmos estivermos desligados, desmontados de nossa verdadeira essência. Nos desmontamos no decorrer de nossas vidas até no fim quando realmente cedemos a última força que nos visita. Por incrível que pareça essa última força, é desejosa de nos libertar, mas na verdade nos destroça porque já estamos totalmente incompletos quando ela nos visita.

Nascemos completos, perfeitamente conectados com tudo que nos cerca. Somos de uma sensibilidade infinita até meados de nossa juventude. Contudo existem desconstrutores em nossas vidas, pessoas incompletas, desconectadas que tentam a cada instante nos desconstruir para fazer de cada criança perfeita a sua imagem e semelhança. Imaginemos duas realidades, em uma crianças brincam em um parque, alegres, saltitantes, felizes e completas, de outro lado, adultos em uma sala de reuniões, sorumbáticos, fechados, cheios de si, digladiando-se por cada mínimo motivo, exacerbando o seu ego. Me pergunto, dentre essas duas realidades, quem está realmente vivendo, quem realmente está completo e conectado?

Desde o nascimento de nossas crianças até a fase adulta só o que sabemos é impor conceitos, colocar regras e ensinar valores, moldar as nossas pequenas crianças ao que foi estipulado como correto pela sociedade. Obrigamos as crianças a comerem nas horas marcadas como corretas, como em um verdadeiro campo de concentração. Obrigamos a comerem o que achamos ser saudável, assistir TV na hora estipulada, brincar na hora marcada e estudar quando nos convém. Criamos os nossos filhos para desaprenderem a serem livres, ensinamos a comer na hora certa e não na hora da fome, a dormir na hora certa e não na hora do sono, a brincar quando nos convém e não quando desejem, a estudar quando aprovamos e nunca quando sentem-se compelidas ao exercício. Me pergunto o quanto isso é saudável e me pergunto porque vejo que muito do trabalho  de reconstrução que faço hoje em minha energia é derivada da desconstrução que se empenharam arduamente em fazer em mim.
Recordei o quanto adorava a sensação de estar só, sem ninguém me ditando as normas do campo de concentração. O quanto era bom transformar a casa em minha nave espacial explorando o universo, o quanto era fácil sentir que não estava de fato só, estava na verdade sem as pessoas que me sugavam energia a todo tempo com suas incessantes rotinas e imposições. Estou então recolhendo os cacos de minha energia jogados em brigas, discussões, imposições, se fosse fazer uma analogia me veria como uma árvore que ia sendo podada a medida que crescia, para ser da forma que combinasse com a mobília da casa.
Hoje vejo o quanto temos dificuldade de nos reconectar. A vida passa e quando percebemos já estamos com a nossa casca dura, com nossa energia dispersa por anos de doutrinação, de moldagem do sistema. Vejo os anseios fundados de Don Juan a Castaneda ao falar que para o seu eu antigo morrer ele deveria se isolar por um tempo, só assim, isolando-se ele juntaria os seus pedaços e conseguiria renascer como foi um dia, pois o sistema é tão bem arquitetado que nos faz manter a linearidade dele mesmo passando um dia de alunos a professores e nos pegamos podando as crianças que nos cercam para serem como somos, rígidos, mesquinhos, egocentricos e vazios de energia.
Mas recapitular nos permite a chance mínima de voltar a sentir-se como já fomos antes. Hoje tive o privilégio de voltar, e a medida que via parte de minha energia sendo recuperada me vi crescendo em energia. É um processo simples, nos sentimos conectados apenas tendo energia. Ouvimos a voz do espírito apenas calando o nosso incessante diálogo. A medida que ouvimos nos acostumamos mais e mais com a voz do Espírito, a medida que recuperamos energia, atraímos mais e mais fragmentos perdidos e seguimos crescendo. É um processo incessante que basta ser iniciado, pois existe uma sabedoria infinita dentro de cada um de nós, e para ascender essa chama energética só basta uma fagulha de poder e de vontade dirigida, de intento.
Fui hoje guiado a uma jornada mágica, o espírito me guiou a uma defumação de minha energia retirando resquícios impregnados de energias que não eram minhas e ajustando as energias minhas que estavam de volta ao meu campo energético. A prática se desdobrou em uma virada de direção onde vi o ponto para onde deveria seguir. O espírito me guiou ainda a saber por onde viria a minha morte quando ela chegasse, de onde viria o poder quando eu o merecesse e para onde eu deveria caminhar quando fosse para o outro mundo, tudo na mais pura simplicidade que rege os mais densos segredos do universo.
Não existe complexidade em se religar, em se reconectar, basta apenas querer, basta apenas o propósito e a consciência. Estar a cada momento consciente do que fazemos é o mágico mistério do caminho do guerreiro, é o segredo da impecabilidade. É fato que ainda teremos que passar um bom tempo nessa realidade até que consigamos eclodir de nosso ovo energético, enquanto estivermos aqui deveremos então agir com consciência em cada ato, nos livrando do que fazemos mecanicamente. Temos que ter consciência de nossa respiração, da forma que nos alimentamos, do que vemos na televisão, do que lemos nos jornais, do que conversamos, com quem conversamos e como conversamos, da forma que trabalhamos, estudamos, nos exercitamos, meditamos, tudo, tudo na vida deve ser regido da mais pura consciência que em tudo deixamos ou carregamos energia e que isso pode mudar todo o rumo de nossa vida. Apenas sendo conscientes de cada ato, e sabendo realizar cada um como um fato mágico e não automatizado é que conseguiremos reunir os pequenos bocados energéticos caro a nossa totalidade.
Vejo cada homem adulto como um garrafa de água congelada, e para tanto temos duas possibilidades. A primeira é a mais comum, ficaremos por toda a vida sendo mantidos congelados na geladeira das rotinas e da atenção do mundo cotidiano. A segunda é sairmos do sistema e esperarmos pacientemente voltarmos ao nosso estado líquido, nosso estado puro, sem brigas com o sistema, apenas mantendo a consciência de seus atos e a meta no infinito e na liberdade. Nos dois casos imaginem a morte como uma força que tiraria a tampa de nossa garrafa antes do golpe final, no primeiro caso a energia estaria tão dura e fixa que não daria para ela fugir do recipiente antes do golpe final, na outra a água escoaria livremente do receptáculo rumo a tão sonhada liberdade. Agora caros colegas caminhantes, só basta decidir o que queremos ser, e a escolha não tem ninguém além de nós mesmo que possamos fazer.

Intento guerreiros.

Comentários

As mais lidas (se gostas de multidão)

A mariposa, a morte, e o espírito

O fim da linhagem de Don juan, a prisão de Castaneda e o legado das bruxas

As dúvidas na caminhada: entre ser tudo e não ser nada