As jornadas no sonhar - Um encontro de guerreiros

          

A disciplina é a senda do guerreiro, 

a negligência é a sua ruína.

Aconteceram diversas interações nos últimos dias, que me deixaram em um misto de preocupação e excitação. Tive um encontro magistral no sonhar, uma mistura de muitas energias, de pessoas de locais, histórias e vidas diferentes, mas com um mesmo propósito empreendido, a liberdade. Nos encontramos em um mundo distante, e com o encontro, com a união da energia de todos atraímos seres avaros por nosso tipo de energia. Não sei quem queriam atingir, mas sei que nada era pessoal, era apenas uma questão de energia, quanto mais, quanto mais fácil, melhor. A interação energética que esses seres do mundo inorgânico querem conosco é estranha a nossa natureza, é de difícil compreensão. Somos seres de liberdade e eles são seres que intencionam a posse, a ligação.

Durante um tempo eu já vinha visitando o reino escuro de energia dos inorgânicos e interagindo com eles. Estranhamente, apesar de serem sonhos conscientes e lúcidos, alguma coisa me fazia relegá-los a segundo plano, os deixando de lado durante os meus dias, uma imprudência que poderia me fazer pagar caro. O mundo dos inorgânicos é um mundo que pode revelar-nos muitos segredos, mas é um mundo que pode nos aprisionar de uma forma inconcebível para os que buscam a liberdade pela liberdade. São segredos de preço muito alto, são tentações sem limites, e artimanhas de artífices do desconhecido. Eu sabia disso, eu sei disso, de forma consciente, li diversas vezes os alertas do Nagual Carlos, do Nagual Juan, mas a um nível energético o conhecimento racional fica relegado a segundo plano, e talvez isso quase tenha me jogado em uma armadilha da segunda atenção.

Fui em um dia normal em que comecei a interagir de forma mais pujante com os inorgânicos, com um em especial. Ele me falava sobre o que eu poderia ganhar estando ali com ele, e o que outros já tinham perdido por não ter aceitado ficar ali com eles. Isso eu já narrei aqui, eles me levaram em várias jornadas, levaram meu corpo energético, meu corpo de sonhar. Mas alguma coisa em mim estava preparada para o embate, eu estava de certa forma fortalecido. Um amigo e um guia da segunda atenção, o Nagual Juan Cortez havia me dado alguns passes mágicos, junto a isso, um colega visitante havia me levado a praticar novamente com ênfase os passes da série westwood, tudo isso havia me fortalecido para o inevitável combate que se seguiu.

Lembro que em um sonho eu havia sido levado a combater diretamente um inorgânico, mesclar minha energia a dele na tentativa de esvaziá-lo. Lembro-me da voz me dizendo para não soltar o inorgânico que isso poderia ser fatal no sonhar. A voz me dizia que eu tinha que segurá-lo até ele ser esvaziado por completo e então eu podia seguir a minha caminhada. Mas lembro-me que algo deu errado, que eu o soltei antes que ele estivesse esgotado, por algum motivo, não me recordo, mas o Nagual Juan Cortez me disse que isso teria consequências. Depois disso a figura me perseguia nos sonhos, eu não tinha medo, me sentia impelido a interagir com ela. Me lembro que sempre que isso acontecia acordava com náuseas, mas a interação continuava. Foi ai que a voz do emissário começou a ressoar de forma mais punjante em minha vida.

Então amigos, que começou a parte mais brusca de tudo. EU sentia que uma parte de mim ficava me levando aquele mundo, mas outra queria resolver aquela situação, de alguma forma a situação deveria ser resolvida, e eu estava sozinho nela. Foi então que recebi um presságio claro, eu deveria intentar um encontro de sonhar, com certos amigos e ainda o Nagual Juan Cortez, só assim a situação se resolveria por completo, e assim eu o fiz. De alguma forma, sei que a reunião foi um sucesso total, mas por outro lado tudo se desenvolveu de forma muito confusa, pois cada um dos envolvidos tiveram uma percepção do que foi o encontro, e ainda uma pessoa que não havia sido prevista apareceu com força no encontro.

Então que nos reunimos e a energia apareceu, para todos, cada um de sua maneira. Um dos feiticeiros do grupo de sonho não a percebeu, mas recebeu uma recomendação do Nagual Juan Cortez sobre o sonhar. A outra que entrou no sonho levada por meu duplo, sem que eu tivesse planejado, foi a que recebeu o golpe do inorgânico. Por um lado a pessoa era mais fraca na interação, por outra era a que tinha mais escudos e assim não recebeu o golpe como deveria. Eu, por outro lado, percebi o encontro mas não percebi a forma diretamente como deveria, para o embate planejado. Mas no somatório das visões de sonho consegui entender o que aconteceu como um todo, consegui ver o que se desenrolava. Já que eu havia chamado a forma, três sinais chegaram para mim, de três formas diferentes. Um feiticeiro me avisou que a forma prejudicou seu sonhar, deixando tudo escuro, esse era o primeiro a viso. A segundo me falou sobre um artefato de sonho para ser utilizado para fortalecer o sonho. E o outro me falou da forma e o ataque que a forma faria, tudo ficou claro, tudo ficou transparente para mim.

Juntei então os farrapos e teci a teia que mostraria todo o panorama. A energia que eu havia combatido em sonho estava atrás de mim, eu precisaria de um combate com ela, definitivo, de vida e morte no qual ou eu ganharia um aliado ou eu morreria, eu precisaria me fortalecer para isso, e ainda que o sonhar não seria o caminho do embate, eu teria que trazer o inorgânico para o meu mundo, para o meu terreno, meu local de poder. Então que me lembrei de um ataque de alguns marimbondos ao meu cachorro, onde o enxame me trouxe uma recordação do inorgânico, o enxame veio do leste, meu local de poder. O presságio era claro, provavelmente eu teria um aliado depois do embate e não a morte.

Contudo fui assaltado de forma inesperada, antes do meu encontro planejado. Tudo estava caminhando da forma correta, mas fui sabotado por minha própria negligência, essa que para mim é o maior inimigo do guerreiro. A vigília é nossa morada, nosso templo forte, e a negligência é a nossa ruína, e assim quase o foi comigo. Dormi um dia muito cedo em minha casa, e nessa dormida, despreparado, mesmo sabendo da força que me enfrentava foi negligente. Dessa forma fui assaltado sem mesmo saber, acordei de supetão enquanto estava fazendo amor com minha mulher, inconsciente. Ainda nos movimentos me atentei ao que estava acontecendo, eu estava ainda na segunda atenção e me passou na mente que minha energia estava se esvaindo, eu me estava desprotegendo. Então me senti cansado, fraco, ofegante, como se tivesse corrido uma maratona, eu suava, meu corpo tremia, sentia que tinha passado perto de se levado, com corpo e tudo para o outro mundo, para o lugar dos inorgânicos. Corri então para o banheiro, me joguei em uma ducha fria, aquilo começou a me restabelecer, mas não totalmente. Então de pés descalços pratiquei os passes da série westwood, e os passes que me foram dados, e comecei a voltar a mim. Mas ainda estava meio tonto, estranho, como se estivesse em um sonho. Fui para meu canto de poder, minha almofada de sonhar, ali estabeleci meu silêncio e me entreguei ao espírito, e então que consegui me completar novamente. A força inorgânica quase havia me levado, era hora de buscá-la para o embate em meu terreno, com as minhas regras.

Então no dia que se sucedeu eu fiquei sozinho em casa, minha mulher havia saido para a sua missa, eu sozinho me preparei pois sabia ser a hora. Sentei-me entre algumas aliadas, a minha esquerda um casal de guerreiras, plantas, dois pés de jasmins companheiros de minhas jornadas mágicas. A minha direita uma outra amiga planta, guerreira também, e a minha frente a que considero mais forte, a guardiã do oeste, a grande guerreira sibipiruna. Então esperei, me concentrei e silenciei a minha mente. Vi que estava ficando cada vez mais leve, o silêncio estava tomando conta de mim. Então fechei meus olhos e focalizei na figura do inorgânico, da energia negra de meu sonho. Ela se converteu em uma mulher, eu estava sonhando, ela me falava algo, não me recordo o que, mas pedia para eu sonhar, para eu dormir. Eu abria os olhos e continuava a sentir sono, e sabia que se dormisse seria meu fim. Olhei para frente e vi a figura de uma pantera negra, no meio de uma moita. Eu sentia a sua respiração ofegante, pesada, os seus olhos olhando para mim. Não via movimento nenhum na rua, parecia que o tempo estava suspenso, só existia eu e a energia ali, o chão começava a ser invadido por uma neblina branca, brilhante. Então alguma coisa em mim rompeu-se, senti uma agressividade vindo de dentro de mim, eu havia de combater a forma era aquela a hora. Me sentei na posição de luta, com o joelho erguido, sentei-me na outra perna, utilizando a erguida como um escudo. Com o braço direito em forma de espada, com os punhos cerrados, batia em minha panturrilha, como se bate uma espada em um escudo. Eu rosnava, sentia-me como um urso, uma fera, quando vi que a figura recuou, sua respiração começou a ofegar, no ritmo imposto pelos meus rugidos. Olhei então e vi outra energia negra chegando-se e interpondo-se entre a forma escura e eu. Então que a minha amiga guerreira mudou, senti as suas folhas chacoalharem e formarem uma massa escura e verde, onde vi, senti ela me dizer que mandasse a forma que havia chegado embora. O fiz e a energia interferente se foi.

Enquanto isso ficávamos ali, eu em minha forma de luta, bradando, do outro lado a figura negra, a pantera na moita, escondida, prescrutando meus movimentos, ofegante e cansada. Comecei e sentir o ímpeto da vitória, uma energia boa me percorria o corpo então ouvi o estalido de galhos a minha direita, na posição de minha fraqueza, o norte. Ali então surgiu uma energia, distante, a frente, e mais uma vez a guerreira árvore, como a massa verde que era me avisou, mas agora me avisou que era uma energia amiga, aliada, me abri a ela e senti-me vitorioso. Foi a hora que tudo cessou, a força escura virou fumaça, sumiu, senti a energia aliada mesclar-se comigo e me trazer de volta a primeira atenção. Foi um evento que em minha contagem de tempo normal passou-se em apenas alguns minutos, mas quando me vi, haviam passado quase três horas.

Não sei precisar o que aconteceu, mas tudo ficou mais leve então, haviam tido duas batalhas, duas contendas, uma no mundo inorgânico, uma em nosso mundo, cada qual com um final, cada qual com um desfecho. Não sei o que acontecerá agora, acredito que termos ainda um embate final, e as consequências dessa luta não posso prever, só aguardar e me preparar para o que há de vir, o fim dessa história, dessa contenda, espero ainda ter poder para relatar.