Um encontro no mundo dos inorgânicos - a chave da libertação

Havia muito tempo que eu não praticava os passes mágicos, muito mesmo. Antes eu tinha o costume de praticar os grupos específicos de passes para a recapitulação, o sonhar, o silêncio interior e o centro para decisões em certos horários do dia. Sempre praticando os do silêncio em conjunto com os demais em uma estrutura que eu havia sintetizado para meus propósitos. Quando eu ia sonhar, praticava os passes do silêncio e do sonho. Quando ia recapitular, procedia da mesma forma. Eu ainda realizava rigorosamente os passes do centro para decisões durante o despertar, por volta das 5 horas da madrugada, junto com os passes do silêncio me ajudavam sempre no sentido abstrato da busca dos feiticeiros e ainda me ajudavam no alongamento para as atividades que eu faço diuturnamente na academia. Fechava-se sempre o ciclo que eu acreditava e ainda acredito de passes imbuídos com o poder dos feiticeiros antigos, os passes que eu considero serem os mais próximos dos originais passados ao nagual Carlos por seu mestre. Não tenho como justificar essa sensação, é apenas o que particularmente sinto em relação aos passes, como já disse em um tópico aqui deste blog. A minha sensação só se consolidou mais ainda com a chegada em minhas mãos do livro “O conhecimento Silencioso”, que é o que acredito ser a publicação original do novo Nagual sobre os passes mágicos, sendo o livro Passes Mágicos apenas uma cópia marketisada deste. Mas isso não é o que quero colocar aqui no prelúdio de minha última aventura, então sigamos em frente.

O que aconteceu foi que retornei, com a chegada deste livro a minhas mãos, a realização dos passes mágicos, exatamente da forma que antes eu os fazia. Contudo antes eu não tinha poder pessoal suficiente para entender energeticamente o que significam estes passos. Realizei então os passes do sonhar, seguidos dos passes do silêncio e os passes mágicos que me foram dados no sonhar pelo nagual Juan Cortez, que chamo de “Fortalecendo o corpo sonhador e fundindo-o com o corpo físico”, que como prometi em breve disponibilizarei aqui. Com a somatória destes três passes fui invadido por um estranho poder que nunca havia sentido, entrei em um estado como de sonho. Ajudando a compor o cenário uma tempestade havia chegado em minha casa. Eu havia combinado no dia que assistiria um filme com minha companheira, mas misteriosamente, como não é costume, ela dormiu muito cedo neste dia, a casa, apesar da chuva que caia, parecia-se silenciada de todas as formas. Fiquei um pouco a contemplar a escuridão que me cercava, escuridão visual, auditiva, era uma escuridão da minha percepção, como eu já havia sentido algumas vezes quando em encontros com a ayahuasca, era mágico, eu quase podia tocar a essência de tudo. Mas eu sabia que meu objetivo era sonhar.

Então me sentei na posição de lótus em minha almofada de sonhos. Me recostei e imediatamente, guiado pelo silêncio fui levado a um local escuro mas cheio de vida, era o mundo dos inorgânicos. Eu sabia que era o mundo pois alguns dias antes eu tinha tido um embate com um deles em um sonho que se passou na Sierra Madre, mesmo sem eu conhecer o lugar sabia que era lá, eu olhava as montanhas de uma casa de adobe, em uma varanda que tinha na sua frente, olhava aquela serra e em uma região deserta eu via uma figura negra, imediatamente eu era levado a ela e então que um jorro de energia nauseante me invadia o corpo, eu sentia que iria desmaiar, e não sabia se isso era possível em sonho, mas era a sensação que tinha. A figura me dava choques constantes e que iam direto ao meu estômago, cada vez eu ficava mais enjoado. Uma voz gritava para mim “não solte a fera, aqui no sonho isso seria fatal para você.” Eu ficava com uma fúria cada vez maior, sentia meus dentes rangerem e eu rosnar feito um urso, até que tudo parou. Abrindo os olhos me vi na região escura, e soube que ali era o mundo inorgânico. Fiquei muito tempo ali até que acordei, despertei, passando o dia com a sensação de fraqueza e náusea até me recuperar. Durante duas noites que se seguiram fiquei visitando o mundo, eu nada dizia, eu nada ouvia, era só o conforto da escuridão e de uma forma terrificante era extremamente real.

Voltando então para o sonho, estava no mundo dos inorgânicos, fui para lá imediatamente, e isso me assustou, sem túneis de luz, sem acordar em um sonho, fui direto para lá, imediatamente. Ali eu comecei pela primeira vez uma conversa, nos termos de nossa sintaxe, com eles. Eu os questionei sobre como empreender conquistas em nosso mundo, financeiras, ou algo neste sentido, não me recordo bem as palavras mas era este o sentido. Então o inorgânico me respondeu:

 - Não sei e nenhum de nós sabe nada acerca de seu mundo, de sua realidade. EU a vejo nos meus termos, e nos meus termos é um mundo cheio de objetos sem energia que para nós não faz nenhum sentido. Acho importante explicar que para nós não é possível fazer nada por vocês em termos de sua realidade, tudo que podemos responder, falar e ajudar é nos termos da energia propriamente dita, ou em termos da segunda atenção e do sonhar. Além disso, nós e a maioria dos inorgânicos espalhados por diversos mundos do universo, não saberíamos e nem conheceríamos os termos para se referir ao seu mundo perceptivo. Assim como não seria possível a vocês entender a nossa forma de viver, interagir com o nosso mundo, ou entre os de nossa mesma existência, as suas palavras seria insuficientes e imprecisas para a compreensão real de nosso mundo, bem como não conseguimos conceber certos aspectos do teu. Existe uma forma de você entender o nosso mundo, mas isso é algo para o futuro, para os tempos que virão.

Existe uma forma pra você entender o seu mundo, mas é por demais perigoso, devo avisar, o preço é alto em demasia e pode ser a sua prisão nesta única existência. Existe a forma inorgânica que vocês conhecem por voladores, estes que a vocês deram a forma do mundo, a forma de vida e de sociedade, eles conhecem a fundo os segredos de tua existência, pois deles advém a sua existência. Eles são o que vocês pensam, os seus anseios, esperanças, eles são o que se tornou o seu mundo, seus prédios, suas máquinas, sua paixão pelo que é morto, sua aversão pelo que tem vida. Eles são antagônicos até com nossa forma de vida, que muito se assemelha a energia deles, eles são pior do que predadores, são seres simbióticos, modificaram tudo que era a essência de sua raça e os transformou no lixo inútil que são hoje.

O diálogo foi breve, mas a sensação foi nauseante. Senti o impacto de suas palavras. Eu então, atingido energeticamente pela energia que teve a declaração, fiquei indo e voltando no sonho, sem me fixar em nenhuma visão, vi algumas imagens difusas, de alguns lugares mas minha atenção de sonho estava destroçada, eu não me concentrava em nada, a minha mente serpenteava, o meu diálogo queria retornar. Me vi dialogando comigo sobre a visão, que era bobagem de minha mente, vi-me usando mil desculpas para desconsiderar o que eu acabara de ver, de ouvir, de sentir ser real. Me senti perdido, sozinho, atordoado. Pensei realmente que aquilo tudo era uma besteira, mas pensei de uma parte dissociada em mim, uma parte separada. Em mim, uma parte não pensava, ria-se da história como dizendo que daquilo já sabia o suficiente, enquanto outra não tardava em lançar mão de recursos de oratória para justificar a ilusão que seria aquele sonho.

Então me levantei e realizei os passes que me foram dados, estava ainda em atenção intensificada. Então que eu compreendi energeticamente os passes, o que eles faziam com a energia, aglutinando e mesclando os corpos energéticos e físicos. Então me restabeleci e imediatamente entrei novamente em um sonho. Ali eu estava novamente perto daquela serra, no deserto, em uma feira a céu aberto. Eu estava em uma banca de frutas, eu sentia o cheiro do mar. Ali eu via a vastidão do universo, eu sentia, me via livre, sem a mente eu era todo poder. Então que um homem, o atendente da banca de frutas me falava para continuar na caminhada, que o caminho estava certo, que a mente um dia cessaria, mas que não adiantaria forçar as portas no caminho. Me lembrou enquanto me dava um fruta estranha que o sonhar era a porta para o infinito, e a recapitulação era a chave, me disse enquanto sorria as seguintes palavras:

 - É bom encontrar uma porta que leva ao infinito, mas melhor ainda é ter a chave que pode abri-la. Você sabe como forjar a chave, mas o trabalho demora uma vida inteira, o fogo das lembranças é a única forma de abrir a porta que te libertará. Bem vindo a porta, volte então no dia que tiver forjado a sua chave.

Ele então abriu um sorriso, lembro de seus dentes, quebrados, tordos, podres, mas o sorriso era muito alegre, comecei a sorrir e acordei em minha rede, sorrindo.