O poder de transformação do silencio




Faz alguns dias que comecei a receber uma séria de indicações e constatar em uma seqüência de presságios que hoje seria uma dia mágico e especial. Logo que acordei constatei que as coisas correriam conforme o pressagiado, conforme o que havia sido sentido, não apenas por mim, mas por diversas pessoas que entenderam o número da data como sendo uma indicação de que algo poderia acontecer neste dia. Resolvi então acreditar, afinal, ter que acreditar é parte da tarefa árdua do guerreiro em sua caminhada. Outro dia um amigo de caminho colocou uma história aqui neste espaço onde era feita uma alegoria entre o relacionamento do homem e do espírito, “no primeiro passo o homem acredita, no segundo duvida e no terceiro ele se esquece.” Eu não queria dar os passos do homem, está mais do que claro para todos, feiticeiros, homens da razão, cientistas que a razão humana e a forma que ela está conduzindo os passos do homem não é lá das mais acertadas, eu não queria cair na corrente do desacreditar. Finquei meu intento na firmeza do propósito, em divulgar essa especial data, em uma hora especial em que o silêncio formaria uma corrente nos muitos que acreditariam nas possibilidades e vi que nada é sem um propósito, tudo tem um objetivo ulterior, um objetivo energético implícito muitas vezes para a razão, mas facilmente constatado para os que além de apenas lançar mão das dúvidas, permanecem na caminhada, e constatam com sua energia ao invés das palavras.

O dia acordou especial, eu havia tido um encontro fantástico no sonhar, alguma coisa se sucedeu de forma inequívoca, em uma tarefa que eu tinha me imposto e apesar de não conseguir atravessar a ponte que deveria, cheguei até ela, consciente, vendo a energia borbulhando em mim e um companheiro, mas uma névoa nos deixou ali, inertes, parados, sem a chance de atravessar, não era a nossa hora afinal, mas esta história não é apenas minha e não posso contá-la em detalhes aqui. Caminhando antes do nascer do sol, eu ainda tentava juntar os fragmentos de meu sonho, juntá-lo totalmente era como juntar a água que caíra durante toda a noite e que agora era apenas a umidade das ruas e as gotas de orvalho nas plantas de meu caminho. No céu ainda pairavam algumas nuvens, ainda cinzentas sem a presença do sol. Olhei para o céu e o via de forma estranha, como em um sonho, olhando minhas mãos tive a certeza que estava desperto, estava no sonho da humanidade, no cotidiano. Consegui então sentir a energia que se formava neste dia, senti e vi de alguma forma que não consigo precisar aqui energia fluindo do universo, ela vinha do horizonte, de todos os lados, toda energia fluía por mim, eu me sentia como parte indissolúvel do universo, podia me estender para todos os lados do infinito, de onde vinha e para onde ia energia. Eu estava flutuando, livre de meus pensamentos, de minhas dúvidas, de meus medos. Era madrugada e o céu começava a brilhar. Então que as nuvens ficaram douradas, o sol já chegaria em breve e eu ali sentindo como se flutuasse junto as linhas de energia do mundo. O céu negro se iluminou, as nuvens cinzas agora douraram-se, o brilho era inebriante, eu choraria emocionado se não fosse a ausência de pensamentos e a profusão de conhecimento silencioso que me invadia.

Era uma caminhada, uma simples caminhada,mas eu sentia o intento, o mar escuro do infinito correndo por entre minha energia, não eram apenas as veias, o corpo, a pele, eu sabia ser mais que isso, eu sentia que iria explodir em um milhão de pedaços eu queria abocanhar cada parte, cada pedaço daquele conhecimento infinito e ancestral que me era mostrado. EU soube então que aquilo tudo sempre esteve ali, por detrás de uma mascara que eu mantinha a minha frente para não ver. Soube que havia um manto que me separava de tudo aquilo, um manto quente que me separava do vento frio do universo escuro da consciência infinita, do conhecimento universal, era um manto que parecia ser confortável, pequeno, que me protegeria, mas senti que era algo que me sugava. Quando focalizei minha atenção naquilo todo um conhecimento seguiu para mim em blocos, eu via as presas dos predadores em cada canto que eu focalizava a minha atenção. Via a nossa energia fluir para coisas sem energia, sem nosso conhecimento, via que nossa energia se esvai sem ao menos termos conhecimento que temos alguma energia. Vis tantas e tantas coisas, situações, prisões, pequenas, grandes, ilusões de todas as formas que nos matem presos aquele cobertor escuro, quente, que nos aparta de tudo que é verdadeiro. O fluxo de energia me descortinava a visão, eu podia ver tudo de alguma forma, mas nada me interessava.

Olhei para uma imensa serra a minha frente, eu estava esperando a chegada do sol, queria ver seu brilho chegando nas árvores distantes, banhando a serra, as ruas, as árvores e chegando até mim, como chegava aquele conhecimento, aquele fluxo de energia toda. Então fui puxado pela paisagem daquela serra, senti que eu poderia escolher entre estar onde eu estava e estar naquelas árvores, mas não quis estar ali, não havia propósito naquela viagem. Comecei então a sentir um amor incrível e indescritível por aquela paisagem e alguma coisa rompeu dentro de mim, como conhecimento traduzido em palavras, palavras disformes que faziam algum sentido para mim, mas que agora posso traduzir em palavras que sei, serão imperfeitas dentro da pequenez de nossa razão.

O silêncio descortina a visão, só no silêncio temos a verdadeira descrição. Entendi os sentimentos, bons e ruins, vi que todos eles são prisão.Vi pessoas chorarem pela morte de parentes, amigos, outras terem o coração cheio de amor pelas pessoas que lhe são caras, amor de mãe, amor de irmão, amor de pai, amor de namorados, vi também o ódio das pessoas, vi o fluxo de energia da cada coisa, e cada um desses amores, cada um desses ódios era a pura prisão, era apenas alimento aos predadores. Para quem vê a implacabilidade, o lugar da não piedade é o único a fazer sentido. Tudo não passa de uma coisa no universo, energia, a energia não se destrói, ela se modifica ao longo do tempo, mas continua energia. O que é dentro passa a ser fora, o que é fora passa a ser dentro, tudo energia seguindo seu fluxo, constante e imutável, o fluxo de energia não cessa no universo. Vendo isso, não há o que chorar por alguém que se foi, a energia continua, ela persistirá, voltará para a fonte e seguirá seu caminho, igualmente conectada a todo o resto, será uma parte de um grande organismo, o universo, que mudará de função dentro dele. A consciência se vai, a consciência nos faz percebermos a nossa individualidade e quando aperfeiçoada nos faz entender a nossa vinculação com a totalidade. Amar ou odiar é desejar, estar perto ou estar afastado, é a descrição de uma interação energética. Muitos gastam jorros de energia amando ou odiando e sequer sabem que estão apenas desperdiçando as suas energias em algo que sequer sabem ao certo o que é. O lugar da não piedade nos faz entender, que tudo é energia e sendo tudo energia, devemos nos ater ao seu fluxo e não a descrições tolas que minimizam a grandeza do universo.

As visões me invadiam, eu percebia que a medida que o sol irradiava, a medida que eu caminhava, diversos conhecimentos estavam ali a minha disposição, mas nada importava, eu queria apenas permanecer no silêncio. EU sabia que perderia tudo quando voltasse a minha mente ordinária, quando voltasse a vestir a máscara social que me cabia no contexto de nossa realidade. Então que eu chegue em minha casa, ali eu me juntei a corrente que vários mantinham do silêncio, uma corrente global, e tudo virou silêncio.

Percebi o que eu era, e o eu, percebi que somos apenas a manutenção constante do que pensamos ser, do que queremos que os outros pensem que somos. Vi por detrás da mascara, vi através do silêncio. VI a nossa mente e como destroná-la, mas não consigo descrever em palavras. Consegui perceber que a máscara cai todas as vezes que o silêncio nos invade, mas não soube os passos para chamar o silêncio, mesmo estando nele. Entrei em uma contradição quando a minha razão tentou juntar os fragmentos desta percepção. Cansado resolvi voltar ao silêncio. E ali, contemplei a minha mente.

Vi minha energia, senti minha energia, a minha consciência. Eu me sentia como um fragmento dentro de mim mesmo, um grão de consciência dentro de um mar de energia que era a minha totalidade. Tentei alcançar a minha totalidade, tocar os fragmentos que me faziam ser aquela massa ovóide de luz e não consegui. Naquele mar de luz que era meu corpo luminoso alguma coisa se soltou. Me senti subindo, olhando para mim de dentro de mim. Um era minha mente, uma massa de luz diferente, como um remendo opaco dentro de um mar de brilho. Outra parte era o que parecia meu ser verdadeiro. Percebi então que necessitava daquele remendo de luz para estar no mundo, mas que precisava manter a consciência de meu ser total para poder controlar a minha energia. Vi uma sombra negra me rondando, mas ela não mais me atingiria, enquanto eu estivesse vestido no manto do silêncio. Minha energia se agitava. Me senti rodando acessando mundos outros. Via vários lugares, sentia que podia me estender junto as linhas do mundo em qualquer direção do infinito. Percebi então que meu ponto de aglutinação, se movia, e a cada movimento sentia como se caísse, ou como se rodasse, ou como se flutuasse. Vi então imagens dispersas de mundos incompreensíveis, fui o mais distante que pude e me senti conectado com tudo. Apensar de mundos fantásticos, de criaturas indescritíveis, senti que uma parte de mim se identificava com tudo, da mesma forma que a minha mente, o remendo de luz opaco se contorcia com tudo que me era mostrado.

Mas aquele remendo era também parte de mim, era parte de meu todo, era de alguma forma conectado comigo, eu não podia livrar-me da mente ainda, eu deveria apenas conseguir controlá-la, ele devia apenas responder aos meus desígnios, aos desígnios do próprio fluxo de energia do universo. Cada energia consciente deve evoluir, deve ter sua consciência aumentada, deve seguir a sua jornada pelo universo. Vi que até a fonte de tudo é apenas uma parte do universo, que apenas a sua consciência incomensurável que atrai outras consciências menores, no intuito da evolução energética, mas que mesmo a fonte de tudo tinha uma parte que eu conseguia identificar comigo também, com minha individualidade.

Então que percebi que tudo que eu via, tudo que eu tocava, era parte de mim também, era um conhecimento que eu já tinha dentro de mim, de alguma forma. Minha visão então virou a visão de um pássaro, olhando o mundo de cima, virou a visão de uma pessoa, confusa, com medos advindos da mente, virou a visão de um cão, seguindo seu faro e instinto, me perdi em tudo que eu vi, até que acordei, sentado em minha sala, ouvindo as minhas músicas. Eram então 12 horas, eu estava esgotado.

Eu era eu mais uma vez, mascarado, mas não mais dominado. Alguma coisa em mim havia mudado, não sei identificar o que mudou, mas alguma coisa dentro de mim desabou, para algo novo que está tomando de volta as rédeas dessa jornada que é a vida.

Esse, amigos, é o poder,
o poder do silêncio!

Comentários

  1. Uma das coisas mais dificeis para o homem moderno é ouvir o som do silencio.
    Estava voltando do mercadinho e passando por uma rua deserta, eu que já estava com o dialogo interno calado, percebi que estava mais forte. Que mesmo quando resolvia ter um dialogo interno era sobre sobre assuntos pertinentes ao Nagual, a 2ª atenção.
    Muitas vezes como Hermano Vento senti e vi as linhas de Mundo, como D.Juan chamava. A visão mais indescritivel foi quando parei o dialogo interno pela primeira vez. Ví o Universo como ele realmente é; Formado por aquelas fibras que cruzam o espaço em todas as direções porém que convergem para o grande Buraco Negro que´irá nos devorar o grande Atrator, a Grande Águia da visão dos Toltecas. Através do silencio intetior posso ver os pontos de vitalidade que fluem a nosso redor, os phótons como chamam os cientistas e posso ver que estou evoluindo pouco a pouco. Tudo isso através do silêncio da mente. Como dizia D. Juan a chave para a entrada na feitiçaria é feita do silencio interior.
    Abraços Hermanos e Forte Intento.
    Dárion

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  2. Duas coisas que fevemos estar atentos é nosso rempo de permanência, que quanto mais tempo intentarmos ficar com nosso diálogo interno parado, mais destreza e agilidade mental conseguimos. Uma outra coisa é o tempo que levamos para adentrar no silencio interior. Algumas pessoas levam mais rempo para entrar nesse estado outras são mais rápidas. O importante é nos livramos de alguns fatores que possam interromper nossa concentração, como barulhos desnecessários. O importante é continuar intentando.

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