O que é o intento


 "[...]Tal como uma bolha mirá-lo
ou mirá-lo como miragem.
Assim considerando o mundo,
não te verá o Rei da morte.[...]

Este mundo tornou-se cego,
poucos aqui veem com clareza.
Como aves que escapam da rede,
poucos são os que vão aos céus.

Nas sendas dos céus vão os cisnes,
no ar milagrosamente vão.
Os sábios deixam este mundo,
vencidos Mara¹ e seus exércitos.[...]"
(Darmapada, Cap. XIII, Do Mundo)
 
1 - Mara é a deusa da ilusão, reflete o pensamento da ilusão budista.

                O que é o intento? Foi uma pergunta que foi feita aqui mesmo neste espaço e fiquei perplexo com a dificuldade em explica-la, mesmo sendo a coisa mais fácil do mundo de sentir e de conceber o que seja. È algo que devemos nos profundar para que realmente nos aproximemos do sentido existente na palavra, que tenta traduzir algo de fato intraduzível, mas facilmente percebido. O intento é uma força perene, como a gravidade, é acessada através de nossa vontade inflexível, para se aproximar dele temos que ter essencialmente energia, com energia o intento se abre para nós, aliás, tudo é questão de energia no universo, seja ele em nossa realidade ou em qualquer outra que visitemos, sem energia, Castaneda disse uma vez, “não valemos um centavo”. O intento é a força perene que mantém o nosso mundo, e qualquer mundo, é a força que utilizamos, como civilização para manter as coisas como as vemos. O intento, segundo podemos ler no livro O presente da Águia, é uma força que intervém no tempo e no espaço, em todas as suas nuances. É algo completamente inacessível, de forma intencional, pelo homem comum, mas pode ser acessada através da impecabilidade e disciplina, pois estas duas ferramentas levam inevitavelmente o guerreiro a um acúmulo de energia. O intento não é um objeto, não é um pensamento, não é um desejo, é, segundo Castaneda, “aquilo que faz o homem triunfar em seus objetivos, e levantá-lo do chão mesmo quando ele já se entregou à derrota. Ao intento é mais forte que o homem.”

               Bem, ainda assim as coisa ainda parecem obscuras a quem busca saber, sem ter entrado nas profundidades do conhecimento deixado nos livros de Carlos Castaneda. Mas é fácil falar que intento é uma força sentida e vivida por todas as pessoas, mesmo não podendo controla-la. O intento de nossa civilização é que mantém o nosso mundo tal qual ele é ele faz com que agrupemos, todos como indivíduos, as mesmas faixas das emanações da águia, para podermos ver uma árvore como uma árvore.

               Segundo Castaneda, o intento vem a nós de três formas diferentes: na primeira, conhecida como “intento do primeiro anel de poder”, é sentido cegamente por todos, de alguma forma foi colocado em nosso caminho, somos presos a sua malha sem nem mesmo saber porque. Sentimos o intento de cada local, de cada construção. Nas igrejas sentimos o intento místico, algo divino, nos bancos sentimos o intento forte do dinheiro, e assim se segue. Segundo Don Juan apud Castaneda, o segundo meio é colocar-se no caminho do intento, para tanto é necessário colocar em prática um grau considerável de determinação e um senso de propósito por nossa parte. Apenas com a impecabilidade própria de um guerreiro é que nos colocamos no caminho do intento, acenamos a ele, com um esforço para que o intento saiba que nos estamos colocando em seu caminho, segundo eles, esse fenômeno é chamado de poder. Ou seja, quando o guerreiro através de sua impecabilidade começa a armazenar poder pessoal, tem energia suficiente, ele começa a ter poder, e com o poder ele começa a manipular o intento, mesmo isso não sendo uma manipulação, segundo Castaneda, isso é sentido pelos guerreiros como uma capacidade ou facilidade em

[...]causar efeitos nos acontecimentos ou mesmo nas pessoas. É como se possibilidades desconhecidas previamente pelos guerreiros se tornassem evidentes de repente. Assim um guerreiro impecável nunca planeja algo antes do tempo, mas seus atos são tão decisivos que parecem ter sido planejados de antemão. (CASTANEDA, 1994)

               O terceiro meio de encontrarmos o intento acontece quando a intenção permite aos guerreiros se adaptarem a ela, este era descrito por Castaneda como o verdadeiro poder, o corolário de uma vida de impecabilidade do guerreiro. Neste estado o guerreiro manipula o intento a sua vontade, nesse ponto a intenção é conhecida como vontade. A questão contraditória é que, quando o guerreiro atinge este estado ele não tem mais desejos, ele não quer mais nada, então não intenta nada, é apenas o canal para o infinito, para o espírito, atende apenas ao que lhe é designado e os meios para atingir o que o espírito lhe guia. O guerreiro pode tudo mas não quer nada, ele é parte do próprio espírito.

               Então podemos ver que o intento é uma força que permeia o universo. Desta forma o intento é a força que utilizamos para manter o mundo como ele é. De forma prática, uma pessoa que intenta algo, só conseguirá esse algo quando permeada pela energia que necessita para o feito. Intentar é direcionar a energia para conectar-se com o fluxo do universo. Um exemplo é a pessoa que intenta ver as mãos, intentando sem energia ele apenas deseja. Com energia o desejo se torna intento. Intentar então é mais do que querer, é sentir o fluxo de energia, sentir-se realizando aquilo que quer, acreditando energeticamente em seus atos. Por isso um guerreiro apenas acena ao intento.

               Ser impecável é quebrar o fluxo gerado pelo intento coletivo de nossa raça. Dessa forma, o guerreiro através da disciplina começa a juntar vestígios de outras emanações da águia, e coloca estes vestígios em outro plano de ação, energético, não contemplado pelo intento do primeiro anel de poder, criando, ou mesclando-se ao intento dos guerreiros, o intento de outra realidade, do segundo anel de poder, só assim o guerreiro exercita o seu intento, ou seu elo de ligação com o intento que é o próprio espírito, o próprio fluxo energético, e mesclando-se a esse intento, limpando seu elo, o guerreiro consegue o feito de libertar-se dos limites deste primeiro anel de poder e transcender a morte.

               Sem conhecimento do intento vivemos pairando neste mundo, seguindo a corrente direcionada pelos nossos antepassados, por seres que hoje nos dominam. Seguimos hoje o intento desconhecido, provavelmente intentado nas gerações passadas pelos voladores em um pacto que não somos signatários, nosso dever como homens, como guerreiros, como seres mágicos é rasgar esse contrato, acordar da letargia e colocar-se a disposição do intento, do espírito, e utilizar essa ligação para transcender os limites do conhecido e futuramente os limites até do desconhecido.

Intento a todos.

Comentários

  1. Como posso armazenar energia? Como posso usar o intento, ainda não entendo.

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  2. Rafael, armazenar energia se faz mudando os hábitos. Espreitar-se é o primeiro passo para armazenar energia, mas vamos a uma lista do que economiza e acumula energia:
    - Suspender os pensamentos;
    - Recapitular;
    - Mudar os hábitos e rotinas;
    - Agir de maneira impecável;
    - Não sujeitar-se a rompantes emocionais;
    - Ter consciência plena de seus atos;
    - Realizar passes mágicos;
    - Exercitar-se;
    - Cuidar da alimentação;
    - Reservar um tempo para meditação;

    Bem, é uma pequena lista, mas pode ser alargada, existem inúmeros exemplos nos livros, então penso que a pergunta 1 está respondida.

    Usar o intento é algo natural, não consciente, deve estar precedido do acúmulo de energia. Usar o intento é colocar-se a sua frente. Parando o diálogo interno e focalizando o pensamento em alguma ação o intento naturalmente direciona-se aquela ação.
    Um exemplo, intentar ensonhar como os feiticeiros deve serm feito no silêncio, quando a mente silencia antes de entrarmo no sonhar, conseguimos intentar o duplo energético, ou o corpo sonhador, e o intentando que sonhamos. Viu amigo, não é algo que dê para explicar, mas praticado dá bons resultados.

    Lembre-se, a chave é a energia.

    Uma última consideração, não manipulamos o intento, apenas acenamos para ele com nosso propósito inflexível, e se tivermos energia suficiente somos agraciados pelo poder do intento. Acenamos para ele e ele vem a nós, é mais ou menos assim.

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  3. To começando a entender melhor o intento. Legal sua postagem com uma lista do que gasta energia e como armazenar( apesar de não ter sido minha a pergunta, mais era uma dúvida que eu tinha, rs).
    Silenciar o diálogo interno com certeza deve ser o mais importante, já que o diálogo interno acredito que seja o que mais gasta energia, além das emoções diárias.
    Gostei do artigo, deu pra entender melhor o que é o intento, acho que só vou entender quando tiver um maior acúmulo de energia.
    Por falar em energia, fui iniciado no Reiki, faz menos de 1 mês. Fiz isso pra descobrir sobre a energia, já que ouvia falar de pessoas que conseguiam curar outras com a canalização de energia. O que vc acha do Reiki? Parece que está sendo uma experiência boa.
    Abraço a todos.

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  4. E como eu sei que tenho energia suficiente? Essa energia é a nossa energia do dia a dia, tipo quando estou com preguiça estou sem energia, é isso?

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  5. Rafael, desculpe, a resposta foi para o Seven, mas como sempre, o que colocamos aqui vale para todos. Rafael, particularmente tenho um interesse particular pela cura energética, e ela funciona de fato, muitas doenças são de natureza energética, basta conseguir manipular a energia e a cura virá.
    Seven, você saberá sem dúvidas a resposta quando tiver energia suficiente, pois as coisas começarão a acontecer contigo, os sonhos, as visões, você sentirar-se conectado com o espírito e isso bastará para tudo acontecer. Recomendo ler as postagens aqui sobre os cernes abstratos e entenderá bem.
    Preguiça tem ligação com falta de energia, e além disso, tem ligação com a ação dos predadores, a preguiça separa os homens de seus objetivos, ela é o oposto da impecabilidade.
    Livre-se da preguiça e terá energia, e com energia se livreará da preguiça. É um ciclo...

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  6. Todos os dias a primeira coisa que faço quando chego ao Colégio é entrar no Blog,cedinho. Fico entusiasmado e satisfeito com as explanações e vivencias de Hermano Vento e outros Guereros.
    Empenhar=se ou entregar-se ao Conhecimento para desvendá-lo é uma das facetas fantásticas que estão a disposição do Guerrero em seu caminho. Cabe a nós mesmos nos perguntarmos:
    - Estou me empenhando realmente no Caminho do Guerreiro? Estou levando a sério minha disposição?
    Um Guerreiro vive numa disposição de combate sem fim. Ser implacável consigo mesmo é uma coisa que ninguém quer. É muito fácil adotar uma postura de "Poor Baby" com dizia Carlitos.
    Podemos passar a vida inteira correndo atrás de nossos próprios rabos caso não tenhamos esforço e determinação. Querer receber tudo mastigado é uma condição triste para aquele que deve ter culhões de aço para enfrentar o Infinito.
    Abraços Guerreros e Forte Intento
    Dárion 07:05 29/11/20111
    * * *

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  7. Caro Seven,
    Uma forma que funciona para conseguir energia é diminuindo a auto piedade, que nós temos muito, quando nos sentimos vítimas do mundo, e a outra forma muito eficaz, é praticando a meditação, se concentrando em parar os pensamentos, fazendo isso com disciplina, na mesma sema você perceberá um aumento de energia. Além, é claro, das dicas que o Enio te passou.
    abraço

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  8. No Domingo estávamos Nik e eu conversando em um parque sobre o que haviamos comersado na noite anterior. Havia iniciado a conversa sobre "estar em dois lugares ao mesmo tempo".
    Nik reocrdava de pouca coisa. Entaõ tive a visão do que aconteceu a D.Juan para que ele despertasse sobre esse assunto. O Nagual Julian deu uma festa na "Hacienda (fazenda)" para vários convidados. O rio proximo estava caudaloso pois havia chovido. O nagual Elias participava da festa e sabia que Julian intentava alguma coisa.
    No meio da festa o nagual Julian pegou D. Juan pelos braços feito um criança e fez uma especie de oração ao Espírito. D. Juan não sabia nadar. O Nagual chegou proximo ao rio e o jogou nele. D.Juan em sua aflição para salvar sua vida se viu desdobrado. Teve a impressão de que estava na beira do rio e dentro dele ao mesmo tempo. D.Juan conseguiu salvar-se porém agora possuia um conhecimento acrescentado.
    Dárion 09:15 29/11/2011
    Abraços Guerreros
    * * *

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  9. Un exrracto de Encontros com o Nagual de Armando Torres:
    "Uma vez que vocês tenham dissecado seus sentimentos, devem aprender como canalizar seus esforços mais além da faixa do interesse humano, até o lugar da não piedade. Para os videntes, esse lugar é uma área de nossa luminosidade tão funcional como é a área da racionalidade. Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista desapegado, da mesma que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas”.

    "Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício de espreitar a nossa auto-importância pode ser tão dolorosa que o aprendiz pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de toda a situação que implique um desgaste energético há um universo impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um ser fluido”.

    "O problema da compaixão é que nos obriga a ver o mundo através da auto-indulgência. Um guerreiro sem compaixão é uma pessoa que conseguiu se colocar no centro da frieza e ele já não se compadece no "pobrezinho de mim". É um indivíduo normal, só que, como não tem piedade por suas fraquezas nem pelas das demais pessoas, conseguiu aprender a rir de si mesmo.
    Darion 11:27 29/11/2011
    * * *

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  10. os bruxos apesar de seu humor são homens que tratam com seriedade o Caminho. Não brincam de bruxos como o Harry Potter, intentam e intentam viver suas vidas como tal, com impecabilidade e implacabilidade sobretudo consgio mesmos.

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  11. Un extracto de Encontros com o Nagual de Armando Torres
    "O trabalho do nagual é esgotador. Ele tem que dominar as artes da espreita e do ensonho com perfeição, tem que aprender a ver e desenvolver ao máximo sua capacidade de manipulação. E tem que dar um exemplo de sobriedade a fim de manter a coesão do grupo. Se você se deixa levar pelas emoções, o resultado é a desintegração".
    Perguntei por quê.
    "Porque o grupo é um organismo de massa crítica. Se qualquer um dos seus componentes se desvia do objetivo, a disfunção resultante causa um colapso e é necessário reiniciar tudo de novo. É por isso que o nagual é obrigado a exigir de seus guerreiros que dêem o máximo de si e dividir as tarefas de forma que todos participem com otimismo e confiança. O óleo do grupo é a impecabilidade de seus membros, e seu combustível, o anseio pela liberdade total".
    Abraços Dárion

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  12. Existem muitos Carlos a falar sobre o caminho, mas onde esta o Juan que percorreu o caminho?

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